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Foto do escritorHenrique Augusto Pires Rezende

A Liderança Feminina nos Dias Atuais

A diferença já começa – ou se perpetua – pela própria definição: o substantivo ‘liderança’ acompanhado do adjetivo ‘feminino’. Como no futebol. Não falamos ‘liderança masculina’ (como algo diferente a ser observado) nem ‘futebol masculino’ (como uma modalidade que precisa ser destacada positivamente), não é?



Outra palavra que acompanha a liderança de mulheres – e várias outras posições/papéis que possam desempenhar – é a conjunção ‘mas’. “Apesar, contudo, todavia, mas, porém, as águas vão rolar”, já dizia a irreverente e libertária (e várias vezes censurada) Rita Lee. Seja no sentido de restrição, oposição ou até de reforço (“ela é bem, mas bem forte”), muitas falas se referem à figura – e atuação – feminina com um ‘mas’ logo em seguida, coladinho, quase fazendo parte do significado. Às vezes um ‘até’ acompanha também. “Ela até é boa no que faz, mas...acaba de ter um filho, antes de engravidar rendia mais, às vezes chora, todo mês fica de TPM...” e a lista não termina aí. Alguém fala assim de um (líder) homem?


E existem aquelas afirmações comparativas que aspiravam ser elogios, mas não passam de expressões de machismo (nada) velado: “ela é tão forte, nem parece mulher”. Ou, pior, “pra uma mulher, até que ela mandou bem, hein!?”


Quem nunca ouviu algo assim, dentro e fora das organizações?


A liderança feminina sempre existiu, mas faz pouco tempo em nossa história (enquanto sociedade e humanidade) que ela vem sendo reconhecida e demandada abertamente – ainda que a abertura para sua existência (e prática) não seja uma unanimidade. Em pleno 2022 ainda é vista como ‘novidade’, com um olhar misto de espanto, curiosidade e “vamos ver até onde vai a brincadeira”.


E ainda há os conceitos pré-estabelecidos (mesmo que subconscientemente) de como uma mulher deve ‘se (com)portar’ – na família, na sociedade, no clube, em uma reunião, na empresa. O que a roupa dela ‘sugere’ (é sexy, vulgar, antiquada, sem graça, brega, chique?), idem para o cabelo, as mãos, as unhas (estão feitas, pintadas de azul, vermelho ou só com base?), se sorri demais, se fala muito (e alto), se é recatada, expansiva ou misteriosa – e por aí vai, outra lista interminável de julgamentos feitos antes mesmo que comece a trabalhar.


Entre alguns dos significados no dicionário, ‘comportar-se’ é ‘poder conter em si, suportar’. Isso diz muito do papel que é esperado das mulheres desde que nascem: que sejam comportadas, que não reclamem, que silenciem o que não gostaram (de ver, ouvir, perder, fazer, mesmo que sofram) e até o que gostaram (por que incomoda tanto ver uma mulher feliz, realizada e sentindo prazer? E uma mulher ‘no poder’, então? Acendem-se todos os holofotes sobre ela, para esmiuçar nos mínimos detalhes qualquer possibilidade de crítica, deslize, hesitação, vírgula fora do lugar.


Apesar da crescente presença feminina em diversos setores, como na ciência, na política, na filosofia, na economia, nas finanças, nas artes, na literatura, a discriminação de gênero ainda existe. Há uma permissividade silenciosa e invisível entranhada em nosso mundo que precisa ser massiva e explicitamente combatida, em todas as suas formas. Como aceitar que um talento como a Marta, considerada ‘a melhor jogadora de todos os tempos’ recebia menos de 1% da remuneração do Neymar? Diversas personalidades femininas se engajaram em uma campanha pela equidade de gênero (e de salário) alavancada pela Marta – que passou a entrar em campo de chuteiras pretas com a simbologia Go Equal, para dar visibilidade à campanha internacional e inspirar outras pessoas.


Austrália e Estados Unidos legitimaram a igualdade salarial entre jogadoras e jogadores de futebol de campo. E nos demais esportes e áreas de atuação, será que está tudo em equilíbrio?


E fora dos campos e dos holofotes, como estão os salários das mulheres, na comparação aos dos homens? E o respeito pelos seus talentos, trabalhos, pontos de vista, necessidades e propósitos?


O Japão ainda pratica a diferença explícita de salários – ao menos em contratos enviados às pessoas dekasseguis (termo usado para se referir a descendentes de japoneses que nasceram fora do país e vão pra lá para trabalhar). Países como Canadá, França, Islândia e Noruega já possuem leis que visam igualdade salarial, inclusive com multas para as empresas que não cumprem a legislação.


Uma mulher, que muitas vezes já realiza malabarismos na vida pessoal para conseguir trabalhar (não, gente, as cargas físicas, mentais e emocionais ainda não são iguais para mamães e papais), ainda precisa, constantemente, ‘provar’ que pode, consegue e sabe o que está fazendo – em todo seu percurso dentro da organização. Se tiver feições delicadas, voz doce e sorriso meigo, mais ainda. Como se iniciativa, habilidade e liderança tivessem algo a ver com isso.


Se você trabalha com/ao lado de uma mulher, procure focar no que pode aprender com ela – para além dos julgamentos rasos de aparência, jeito de ser, falar, beber o café. Às vezes o que mais criticamos é o que mais precisamos aprender – ou observar dentro de nós.


Espelhos, lembra?


Se você é uma mulher e está na liderança: seja bem-vinda. Entre, fique à vontade, a (c)asa é sua. Mesmo que (ainda) não pareça. E se as crianças começarem a fazer birra, já sabe...uma hora passa!

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