Como parar o oceano, o vento, uma cachoeira, um vulcão em erupção? O ser humano vez ou outra lança mão de tecnologias para mudar o curso de uma parte da natureza – como represar a água de um rio – mas já vimos que isso dura um tempo limitado e, se o processo não for bem monitorado e gerenciado, pode resultar em prejuízos e até tragédia. A natureza é perfeita em sua diversidade, simbioses, alternâncias, ciclos, ritmos – e, ainda assim, os habitantes desse planeta insistem em controlá-la. Doce ilusão. Podemos usá-la a nosso favor, como a geração de energia solar, eólica, maremotriz, mas não lhe dizer como as coisas devem ser feitas, muito menos impedi-la de manifestar, diariamente, onipresentemente, toda sua potência.
O espírito empreendedor é como uma força da natureza: pode-se até segurá-lo por um tempo mas, se não tiver espaço e liberdade para expandir, vai transbordar, romper os limites e fazer de tudo pra sair de onde está. Quem nunca viu raízes grandes e fortes de uma árvore atravessarem a dureza do asfalto, uma pequenina flor sair do chão de concreto – para simplesmente continuarem lá, só que livres, descobertas, à luz do sol? “E o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão”, já dizia Maria Bethânia.
A criatividade é assim. Pode-se tentar sufocá-la com deadlines, processos, regras, burocracias, planilhas e controle de metas, mas uma hora ela vai transbordar.
Quando a alma inventiva está livre para voar, criar seus próprios caminhos, gerenciar tempo e recursos, tem espaço para experimentar, errar, tentar de outro jeito, pode apostar que é uma pessoa com quem se pode contar para encontrar soluções criativas e funcionais – seu cérebro se exercita mais nesse sentido e tem musculatura para “pensar grande”.
Por outro lado, se a mente criativa está atolada na fabricação em série de caixinhas da mesma cor e formato, dia após dia, vai precisar de mais tempo para ‘desenferrujar’ e ganhar a musculatura da inovação – não é impossível, só pode levar mais tempo.
Antigamente, pessoas com espírito muito empreendedor, sempre com novas ideias (para além das já aprovadas), por vezes inquietas e inconformadas com o “porque as coisas são assim e pronto”, não eram consideradas ‘apropriadas, convenientes’ para fazerem parte do status quo corporativo. Empreendedorismo não combinava com empregabilidade – eram quase concorrentes.
Com o avanço tecnológico surpreendentemente acelerado e a consequente volatilidade das inovações, as empresas precisaram rever seus processos, produtos, serviços e sua maneira de se comunicar com o mundo – consumidor, formador de opinião, cheio de outras opções a todo instante. E a relação entre empreendedorismo e empregabilidade mudou: do viés competitivo ‘ou isso ou aquilo’, surgiu uma espécie de “simbiose” com benefícios para ambas as partes. Simplificando bastante a teoria, o(a)s empreendedore(a)s ganham estrutura, recursos, liberdade e autonomia para fazerem as coisas do seu jeito; e a empresa ganha um time de mentes criativas focadas em inovação e melhorias 100% do tempo. A essa nova aliança pautada em confiança e irreverência deu-se o nome de ‘intraempreendedorismo’.
O conceito de intracorporate entrepreneuring (empreendedorismo intracorporativo), que derivou para ‘intrapreneur’ (empreendedor interno) – data da virada dos anos 80, nos Estados Unidos (vide artigo de Gifford e Elizabeth Pinchot, publicado em 1978, em NY). No entanto, só recentemente vimos essa prática passar a ser adotada – e divulgada – por companhias conhecidas do público geral. Google, Facebook, Microsoft, Playstation, Havaianas, são algumas das marcas que já realizaram mudanças bem-sucedidas e lucrativas provenientes das sugestões de seus intraempreendedores.
Várias dessas corporações realizam grandes eventos com foco na geração de soluções – como os ‘hackatons’, maratonas de programação em que os participantes desenvolvem ideias inovadoras para a área de tecnologia. Outras realizam sessões de pitching (apresentação/defesa de projeto), intercâmbios entre equipes e unidades – vale de tudo para não deixar a bola cair em campo.
Provavelmente em seu time de colaboradore(a)s há duas, três ou mais pessoas com esse espírito intraempreendedor, que estão sempre inventando (ou querendo) algo diferente para fazer, questionando os processos, pensando em novas soluções. Ou pode ser alguém mais discreto(a), só esperando por uma oportunidade para se revelar e mostrar suas ideias.
Lideranças empreendedoras têm mais facilidade para reconhecer quem também é. E quem aprecia muito uma rotina nem sempre entende gente com tanta ideia e vontade de criar – e está tudo bem, tem espaço e demanda pra todo mundo –, mas provavelmente são o(a)s intraempreendedore(a)s que acatam melhor os desafios e fazem a roda girar em direção ao futuro.
E, como dizem, o futuro é aqui e agora. Já expandiu seus horizontes hoje?
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