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Foto do escritorHenrique Augusto Pires Rezende

Diversidade e Inclusão como prioridades nos planos estratégicos de RH

Há quem distorça a Teoria da Evolução do naturalista britânico Charles Darwin (livro “A Origem das Espécies”, 1859) e fale em “darwinismo social” – para justificar a competição desenfreada, em que apenas os mais fortes estão aptos a sobreviver. Mas suas ideias nem de longe traziam qualquer referência à violência ou exclusão.



A bordo do navio inglês HMS Beagle, para uma expedição que durou 5 anos e passou pela costa da América do Sul, Darwin ficou horrorizado com o cenário de escravidão que viu aqui no Brasil – mais especificamente no Rio de Janeiro, onde desembarcou em 1832. Em seu diário, escreveu que acreditava que, um dia, os africanos escravizados se tornariam os governantes (como aconteceu no Haiti), não só pela enorme quantidade de pessoas, mas também por seus portes físicos, habilidades e inteligências.


Ainda que Darwin acreditasse que existiam grupos étnicos mais ou menos civilizados que outros (“A Descendência do Homem”, 1971) – e por isso ele não foi considerado antirracista, apesar de ser declaradamente abolicionista –, ele dedicou parte de sua vida para mostrar que todos temos um ancestral comum – e, portanto, somos irmãos.


Se somos uma infinita irmandade pelo planeta Terra, o que estamos fazendo com nossa própria família? Guerras, disputas por territórios, violências indescritíveis (desumanas!), assédios dos mais variados graus. Em que ponto de nossa evolução (ou seria involução?) perdemos a nossa ‘humanidade’? E será que está correto ainda usarmos essa palavra para designar bom-senso, compaixão, empatia, cuidado individual e coletivo, afeto por outras pessoas e seres vivos?


Se somos todo(a)s irmãos e irmãs, porque precisamos falar de ‘diversidade e inclusão’ como se fossem joias raras e preciosas? Mesmo que não tenhamos um bom exemplo bíblico (Caim e Abel), continuamos usando as expressões “ele é como um irmão pra mim” e “ela é a irmã que a vida me deu” para nos referirmos a pessoas muito próximas e de grande afinidade, respeito, confiança e parceria. E, com nossos irmãos e irmãs ‘de sangue’ ou ‘de criação’, ainda que tenhamos diferenças – no jeito de ser, de pensar, de agir – e, por vezes, entremos em discussões/brigas, no geral prevalece aquela voz lá no fundo de nossa mente-alma-ser (como for mais confortável pra você chamar): “ela(e) é sua irmã/seu irmão, perdoa, pede perdão” – segue em frente!


Por que não agimos assim com todas as pessoas de nosso convívio? Não estamos nos referindo aqui a situações de crime e violência – aí são outros contextos com outros desdobramentos –, mas a cenas do dia-a-dia em que, por vezes (e cada vez mais, ao que parece), nos vemos prejudicando e até rompendo relações por causas que seriam resolvidas em uma boa conversa madura e transparente.


Será que, inconscientemente, reproduzimos a teoria da evolução darwiniana, em uma constante tentativa de ‘sobrevivência’ – ao que quer que seja? Será que introjetamos esse ‘instinto biológico’ no frenesi capitalista-corporativo e, por isso, quem não está ‘no padrão’ é rejeitado(a) – ainda que discreta ou subliminarmente –, tratado(a) de ‘forma diferente’?

O que, em nós, nos coloca na defensiva em relação ao “diferente”? Mais que isso, que conceito é esse de “diferente”? Não somos todo(a)s diverso(a)s e, ao mesmo tempo, único(a)s? Mesmo pessoas gêmeas univitelinas têm algo que as diferencia uma da outra. Não somos clones copiados geneticamente em laboratório, somos universos incríveis dentro de corpos humanos.


E, se estamos todos no mesmo barco – que é a vida –, por que a dificuldade de se ‘incluir’ alguém em alguma coisa? Por que isso vira uma ‘questão’ e não é algo natural para o bem e felicidade de todo(a)s? Por que tanta necessidade de competir, em vez de compartilhar e celebrar?


Quando a monocultura – na agricultura ou na sociedade – foi benéfica para todas as pessoas (e a natureza), em vez de só encher o bolso de alguns indivíduos? Quando a exclusão (de pessoas consideradas ‘diferentes’) fez uma companhia ser melhor que a outra?


A criatividade não nasce nem se alimenta do “tudo sempre igual”. Quem nunca ouviu alguma frase similar à “se quer algo que nunca teve, faça algo que nunca fez”?

Diversidade e inclusão não são apenas ‘prioridades nos planos estratégicos do RH’.


Pessoas de origens, etnias, grupos sociais e percursos de vida distintos, com experiências únicas e diversas, com referências socioculturais que podem ou não sintonizar com as nossas – pessoas que pensam de maneira diferente, que nos mostram espelhos ou nos apresentam outros ângulos – são ingredientes fundamentais para um crescimento saudável, um ambiente rico e criativo e modos de existir e se relacionar mais sustentáveis e regenerativos.


Sim, nossa humanidade precisa se regenerar – enquanto sociedade e dentro de cada empresa também.


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