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Foto do escritorHenrique Augusto Pires Rezende

Empatia e Poder do Nunchi

Entre tantas palavras novas (para nós) e antigas (para outras pessoas e sociedades), conceitos bem elaborados e definições em outros idiomas, na verdade os caminhos das relações humanas convergem para um local simples e já conhecido de todo(a)s, ainda que algumas pessoas prefiram não olhar muito (quanto mais se colocar ali de forma aberta e vulnerável): o local do sentir, das emoções, da empatia, da intuição.



Há quem se arrepie só de ouvir-ler essas palavras, possivelmente associando-as à perda de controle, dramas à La Almodóvar, falta de objetividade e, com isso, desvio das metas a serem atingidas.


Se você é uma dessas pessoas, fique tranquilo(a), estamos falando de uma importante ferramenta em todos os momentos de relações pessoais e profissionais: a habilidade de observar e ‘tirar uma temperatura’ do ambiente, dos ânimos, das pessoas ali presentes – antes mesmo de iniciar uma conversa.


Tal habilidade está diretamente ligada à sensibilidade. Perceber o que sentimos ao pensar, ver, falar, ouvir, encontrar outra(s) pessoa(s) é o primeiro passo – somos nossas próprias ‘cobaias’ nesse estudo fino de autoconhecimento. Perceber como as pessoas ao redor se comportam e se expressam – ou o que silenciam e retêm dentro de suas armaduras, às vezes invisíveis, outras nem tanto – é um segundo passo (que pode acontecer simultaneamente ao primeiro). Ouvir mais, falar menos, observar os sinais não verbais, o que dizem os silêncios, o que risos e palavras soltas calam são algumas das práticas que nos levam ao tema da nossa conversa aqui: o Nunchi (Noonchi).


Traduzido ao pé da letra como uma ‘medida de olho’(‘eye-measure’), esse conceito da cultura coreana é associado, aqui no Ocidente, ao campo da inteligência emocional. ‘Pegar no ar’, ‘sentir o clima’, ter um feeling de uma determinada situação são algumas traduções livres que podemos nos permitir nessa integração cultural. Ainda que soe como algo muito subjetivo e individual, o conceito de Nunchi é reconhecido como de interesse coletivo, relacionado à arte de saber ouvir, sentir o humor das outras pessoas e praticar o ‘tato’ da diplomacia.


Claro, não adianta muito ‘sentir tudo’ e não saber como agir. Por vezes, silenciar e aguardar o momento certo é a melhor pedida – ainda que pessoas muito ansiosas queiram pular essa etapa. “Como saber quando é o momento certo?”. De novo, vêm a observação e o sentir. Há quem diga: “você vai saber” – e não negamos, pode ser uma experiência interessante ouvir a sua intuição. Mas, olhe, é preciso ouvi-la – não atropelá-la com hipóteses e cálculos de hipotenusas.


Saber como falar e agir, dependendo do momento e das pessoas envolvidas, parece fácil, mas é um dom para alguns e um grande esforço para outros. Eis que a habilidade de utilizar o Nunchi ‘dá um match perfeito’ com a Empatia. Para além de ler o ambiente e perceber o humor das pessoas, é preciso saber por onde, com quem e como entrar – no espaço, na conversa, no lugar do(a) outro(a).


Nem todo mundo entende o silêncio. Assim como muita gente se derrete pelo sorriso fácil. O que (não) é dito olho no olho também é muito importante. Não à toa dizem que os olhos são as janelas da alma – por ali entramos em lugares não vistos, não expostos, às vezes desconhecidos da própria pessoa. Assim como permitimos que outro(a)s nos leiam para além da superfície. Por isso algumas pessoas não conseguem sustentar esse lugar ‘olhos nos olhos’ por muito tempo – nem sempre é confortável, ainda mais quando não se tem intimidade.


Se para você tudo pareceu meio óbvio até aqui, lembre-se que nem todas as pessoas se sentem à vontade com a possibilidade de ‘sentir’, de dar valor à intuição, às informações invisíveis. Ainda mais quando se pretende aplicar essas preciosidades em um ambiente de trabalho visando lucro.


No fundo – ou bem na superfície da pele – ainda que sejamos popularmente chamados de ‘seres racionais’, quando os pelos se arrepiam, há três possibilidades: estamos com frio, sentimos prazer ou precisamos sair correndo dali. Nossas glândulas, músculos e células soam alertas e euforias – não é só no cérebro que se concentra nossa inteligência, capacidade de sobrevivência e de se relacionar.


Agora preste atenção ao redor. O que o óbvio revela? E o invisível? O que mais pulsa, além do seu pulso?

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