Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), idosa é toda pessoa acima de 60 anos. O mesmo vale para a Política Nacional do Idoso (1994) e o Estatuto do Idoso (2003).
A sinalização de vagas de estacionamento para idoso(a)s ainda traz a figura de uma pessoa com bengala – mas será que essa ilustração representa a realidade hoje?
Vemos pessoas de 60, 70, 80 anos bastante ativas, praticando esportes, dança, namorando, produzindo arte, música, lançando-se em viagens e aventuras (trekking, roteiros de bike, caminhos de peregrinação). Há quem tenha conseguido se aposentar bem e desfruta de bons momentos com a família e amigo(a)s, há quem ainda precise trabalhar para manter casa e comida na mesa – infelizmente sabemos que no Brasil a vida não fica mais fácil com o avanço da idade cronológica.
Claro que a partir dos 50, 60 anos, já não se tem o mesmo pique de jovens de 20 e poucos anos. É preciso descansar mais, se cuidar melhor, aceitar que o tempo é outro. Por outro lado, também vemos pessoas que mal saíram da adolescência e já estão cansadas, quase inativas, sedentárias. Culpa do excesso de tecnologia, coisa que não existia ‘antigamente’? Talvez. Mas é fato que há idoso(a)s com condicionamento físico melhor e mais energia vital que muita gente mais nova.
Então, voltando à placa de uma pessoa com bengala e mão nas costas (dor na lombar?), será que essa visão se repete dentro do mundo corporativo?
Vamos pensar na seguinte cena: você recebe vários currículos para uma vaga de liderança, leva um tempo avaliando um por um, consulta algumas referências, pesquisa nas redes sociais para ver o que encontra além do arquivo em pdf (ou papel) e faz uma lista de candidato(a)s a serem convidado(a)s para uma entrevista – entre tantos, dois perfis chamam sua atenção e quase empatam em qualificações e experiências, com a diferença de que uma das pessoas tem 35 anos e a outra 55. Passadas as entrevistas, o empate permanece e você precisa tomar uma decisão baseada em algum critério justificável (para a companhia e, talvez, para você mesmo/a). A idade seria uma questão? Você se perguntaria se a pessoa de ‘mais idade’ vai ter mais problemas de saúde? Menos ‘tempo útil de vida’ no trabalho? Isso sem falar em gênero, etnia e realidade socioeconômica, outros três recortes também praticados e, muitas vezes, invisibilizados.
Precisamos olhar com franqueza e delicadeza para o jeito que aprendemos a ver e considerar as pessoas pela aparência, faixa etária, onde mora ou quanto dinheiro tem. Precisamos nos despir dos preconceitos arraigados e (re)aprender a levar em conta o que realmente importa: essa pessoa é boa (na vida)? Ela pode ser boa para nós (empresa)?
Enquanto a idade (ainda) for um critério para se decidir um empate técnico entre um perfil e outro, estaremos reproduzindo valores antiquados e, bem provável, deixando passar um talento precioso.
Se, por um lado, um(a) profissional mais novo(a) pode imprimir mais velocidade em algumas atividades e discursos, com sinapses mais dinâmicas, por outro um(a) líder mais velho(a) pode beneficiar o coletivo com decisões maduras e, por vezes, mais sensatas e menos impulsivas – baseadas em suas experiências de (mais tempo de) vida. E isso não quer dizer que ‘um(a) senhor(a)’ de 65 anos não possa ter a mente aberta e mais disposição para experiências arrojadas do que alguém com metade da sua idade. Lembre-se: essa pessoa de cabelos grisalhos (ou brancos) à sua frente também já foi jovem um dia.
Não estamos dizendo que todo o processo de contratação e gestão de pessoas precise mudar, mas é importante e necessário que seja mais inclusivo. O equilíbrio é sempre uma boa escolha. Lideranças e equipes de variadas faixas etárias, etnias, gêneros, camadas sociais produzirão resultados mais assertivos para diferentes públicos internos e externos de sua companhia/empreendimento, produto ou serviço. Com horizontes amplificados, sua visão de mundo – e de mercado – será mais clara e visionária. Cercar-se apenas de ‘iguais’ em fenótipos e pensamentos, além de monótono, pode ser uma visão míope e protecionista, de alcance viciado e limitado. A evolução acontece na diversidade, no movimento, na interação entre todos personagens do ecossistema.
E lembre-se: a não ser que ‘inventemos a roda’, tudo que fazemos e usufruímos agora foi pensado e experimentado por alguém antes. É preciso paciência e respeito de ambos os lados. Todo mundo, um dia, vai envelhecer.
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