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Foto do escritorHenrique Augusto Pires Rezende

Liderança: como saber se estou fazendo as coisas certas?



“Faço o que eu digo, não faça o que eu faço”. Quantas vezes já ouvimos ou dissemos esta frase ‘na brincadeira’? Ou refletimos sobre isso, depois de alguém nos pegar ‘no flagra’ (crianças são boas nisso), fazendo algo que dissemos que não era para fazer – no caso da criançada, por exemplo, falar ‘palavrão’. Ou, ao contrário, não exercendo algo que recomendamos que outras pessoas façam – como não se estressar tanto com ‘pequenas coisas’, pensar bem antes de falar e manter a calma antes de agir (principalmente no trânsito).


Trazendo essa reflexão para o cenário de gestão de pessoas no universo corporativo, a frase está mais para um meme, um gif, do que a fala de alguém em posição de liderança. No entanto, ainda vemos essa postura por aí, dentro e fora dos ambientes empresariais, em pessoas que exercem o papel de ‘chefe’, dono(a), patrão(oa) – “o(a) que manda e quer ser obedecido(a)” -, não propriamente o de ‘líder.’


Liderar tem a ver com compartilhar conhecimento. Contar e ouvir histórias. Observar. Saber que também é observado(a) quanto ao que diz, como se comporta e o que pratica. Mostrar como faz as coisas e, talvez, como gostaria que fossem feitas – ou apontar a direção na bússola e deixar que o time use sua criatividade para chegar lá. Liderar tem mais a ver com integridade, alinhamento e exemplo, do que com cargo, poder e fama.


“Manda quem pode, obedece quem tem juízo” – eis outra frase antiga que não dialoga com uma liderança saudável.


Às vezes “quem manda” está nesse papel por outras razões, não propriamente pela habilidade e o prazer em comandar uma equipe coesa, leal e motivada. Há quem dê ordens com base em ameaças subliminares – talvez porque tenha aprendido assim. Há quem obedeça por insegurança, por medo de receber um castigo ou até perder o emprego – esse é o significado do “obedece quem tem juízo”.


Mas ‘mandar’ não significa liderar. E quem lidera bem não precisa mandar, às vezes nem precisa pedir. Está ali, de corpo presente e atento(a), seu time naturalmente segue o desenrolar do projeto – sabendo que pode apresentar ideias e iniciativas sem receio de repressão, que tem com quem contar caso precise tirar alguma dúvida ou pedir um reforço – sim, um reforço, o(a) líder chega para remar junto se for preciso. Ameaças e jogos de poder passam longe da liderança orgânica – aqui os valores são outros: empatia, escuta atenta, confiança, autonomia, diversidade, união, respeito à individualidade, força no empreender coletivo.

Os tempos mudaram e vão continuar mudando – é a roda da vida, da qual não temos controle, mas onde a cada dia temos a oportunidade de aprender e (nos) transformar. E é esse pensamento que azeita as relações e faz a (nova) roda da fortuna girar – a fortuna, no caso, somos nós.

Afinal de contas, o mundo (antropocêntrico) é feito de pessoas. E as empresas, por enquanto, também.


Chefes não lidam bem com erros e procuram culpados. Líderes sabem que erros fazem parte dos acertos – que errar é, sim, humano e democrático – e que até mesmo ele(a)s podem dar uma bola fora e tudo bem, faz parte, vamos em frente. Aprendizados individuais e coletivos.


E um(a) chefe pode se tornar um(a) líder? Sim.


Mudanças de hábito são mesmo desafiadoras e o resultado depende muito de cada um(a). Mais ainda se temos um papel de referência para alguém ou algum grupo. Pré-disposição para brigas, vício no cigarro e gatilhos de estresse são alguns exemplos do que todo mundo sabe que não faz bem (para nós e para os outros) – os efeitos a curto, médio e longo prazo são danosos à nossa saúde física e mental – e, mesmo assim, livrar-se deles não é tarefa fácil.


Falar, sim, é mais fácil. Anunciar, colher incentivos. Mas realizar as mudanças (internas e externas), rever os conceitos e crenças, experimentar novos jeitos de se comunicar, se relacionar e agir, é um desafio diário e requer auto-observação, paciência, resiliência e força de vontade.


Os frutos, no entanto, podem ser maravilhosos - e trazer benefícios físicos, mentais, emocionais e sociais. Mais saúde, qualidade de vida (inclusive no âmbito do trabalho e da família), mais consciência de suas capacidades e limites, mais empatia, melhores relações pessoais e profissionais.

O mais interessante, nos tempos atuais, é que você não precisa fazer essa travessia sozinho(a), pode trazer o processo para dentro do seu time/organização. E aí ressignificamos a frase “faça o que eu digo (que combinamos que é o que queremos/precisamos mudar), não faça o que eu (ainda) faço (mas estou tentando mudar)”.


E como saber se estamos no caminho certo?


Você dá feedbacks com frequência e facilidade? Sua equipe já se acostumou com essa dinâmica? E receber feedbacks espontâneos…é algo tranquilo para você? Se é positivo, você se envaidece? E se é negativo, você fica de olho na pessoa que falou aquilo para você? Ou, em ambas as possibilidades, você sabe que tudo depende de como cada pessoa está, que referências tem, que expectativas tinha e o quanto responsabilizou você pelo que aconteceu ou deixou de acontecer.


Seu time é pulsante, vive dando ideias, querendo saber mais das coisas, fazer melhor ou diferente? Tão pulsante que às vezes irrita e você fica pensando quem ali logo vai estar no seu lugar? Aliás, você tem medo que exista em sua equipe alguém mais talentoso(a) que você? Ou o dia-a-dia da sua turma é um ambiente mais morno, meio no piloto automático, onde só fazem o que é solicitado e olhe lá…?

Alguém, do seu time ou não, já se inspirou em algo que você faz (ou como faz)? Pergunta sua opinião sobre assuntos dentro e fora da sua alçada? Alguém já disse que aspira ser um(a) líder como você…?


Já o(a) surpreenderam com algo útil/incrível/criativo que você nem tinha pedido para fazer?


E, na sua equipe mesmo, quando alguém não consegue encontrar uma solução ou finalizar uma tarefa (perceba que não falamos em ‘metas’ e é proposital)…essa pessoa tem a liberdade de pedir a sua ajuda?


Esses são alguns dos sinais para se ‘tirar a temperatura’ do exercício da liderança. Existem vários outros, claro. E sabemos que diversos fatores podem influenciar nessa medição, como a cultura e a saúde da empresa, o momento de vida de cada um(a), a situação financeira/pessoal/familiar/emocional/psicológica de todo o time, entre outros. Mas o que salientamos aqui são práticas que, se ainda não são reconhecidamente parte do seu repertório, vale muito conhecer e, quem sabe, integrar.


Liderança é um organismo vivo e, como tal, constantemente se alimenta, se (re)direciona e se transforma.


Divirta-se!

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