De casa para o trabalho, podem mudar o cenário e o contexto, mas ainda somos o(a)s mesmo(a)s seres cheios de curiosidades, dúvidas, inseguranças e necessidades.
Fazemos perguntas o tempo todo, à espera de respostas positivas. São poucas as ‘sugestões e críticas construtivas’ que aceitamos – e de poucas pessoas. Isso envolve autoconfiança, confiança na pessoa que ouvimos, disposição e habilidade de escutar sem rebater e, dependendo do assunto, uma certa dose de maturidade.
“Quem cala, consente” – diz o ditado. Será? Quantas coisas deixamos de dizer por receio de magoar alguém, de expor o que realmente pensamos – e que nem sempre é consenso, às vezes causa desconforto, indignação e até desavença. Quantas coisas ouvimos calado(a)s para evitar confrontos, “porque não adianta responder, ele(a) não ouve”, “porque se eu falar, vai piorar a situação” ou simplesmente porque estamos com preguiça ou já aprendemos a lição, “não vale (mais) a pena desperdiçar energia-saliva-tempo com isso”.
Um bom feedback não nasce da noite para o dia – pelo menos, não para todo(a)s. É uma construção diária de espaço, diálogo, permeabilidade, sensibilidade. Há um estado de conexão também: estamos mais aberto(a)s para algumas pessoas do que para outras. O tal do “quando o santo bate”. Ou, às vezes ‘os santos ainda nem se encontraram’, mas temos uma grande admiração por alguém – e se/quando esse alguém vem falar conosco, somos imediatamente receptivo(a)s.
Existem os feedbacks combinados e os espontâneos. No primeiro caso, pode ser determinado por prazo, como uma conversa esperada ao final de tal etapa ou projeto. No segundo, como o próprio nome diz, acontece por vontade de alguém (que pede ou oferece) ou por conta de algum evento inesperado ou que tomou maiores proporções.
Há que se ligar a antena, o radar, o filtro, a intuição – perceber quem oferece um feedback com a mais pura intenção de ajudar a corrigir a rota, contribuir para algo positivo, dar uma força; e quem usa esse momento para (tentar) se mostrar superior, cutucar uma ferida, colocar a pessoa pra baixo e até arriscar um assédio moral (bullying) disfarçado de “estou falando isso pra te ajudar”.
Saber pedir também é uma habilidade – natural para algumas pessoas, adquirida e desenvolvida para outras. Com quem falar, quando, como, onde e, algumas vezes, por que motivo. Esse bom senso pode fazer uma enorme diferença na receptividade do(a) interlocutor(a) – e no que se ouvirá a seguir.
Se é você quem está no papel de fornecer os feedbacks, talvez seja interessante lembrar que não precisa entregar tudo ‘mastigado’ – e que pode convidar a outra pessoa a uma reflexão sobre si mesma, sua relação com o entorno e seu ‘modo de estar’ no mundo. Mais como copiloto(a), menos como motorista.
O tal conceito de saber fazer boas perguntas, em vez de oferecer todas as respostas prontas. Até porque é importante que cada um(a) pratique esse olhar de fora para dentro, tanto quanto o de dentro para fora – com honestidade, resiliência e vontade de ser (humano, pessoa, profissional) cada vez melhor.
Mas, claro, às vezes surge uma coceirinha e “vontade de ajudar aquela pessoa que é tão legal, mas não percebe que está sendo inconveniente quando ______ (complete a frase)”. Dependendo de como funcionam as relações dentro da sua empresa ou projeto, se há mais ou menos permeabilidade, se a gestão é mais vertical ou horizontal – e de como é a sua relação com aquela pessoa – você terá mais ou menos espaço para isso.
Há o feedback individual (um a um), o coletivo (um para todos) e o que vamos chamar de ‘personalizado’: quando o grupo inteiro fala para uma pessoa (pode haver um rodízio para estar no lugar de quem recebe). Quando a notícia é boa, é fácil. Mas quando o assunto não é tão positivo, é preciso ter sensibilidade, empatia e cuidado na escolha das palavras, do tom de voz e na condução da conversa.
Em um mundo ideal – já que sempre dizem para não deixarmos de sonhar –, todas as pessoas se relacionam e dialogam em paz e harmonia, as diferenças são respeitadas e cultivadas, as individualidades têm seus espaços seguros e potencializam o criar coletivo. Em uma empresa ideal, ainda no campo do sonho, as lideranças se reúnem periodicamente com suas equipes, sentam-se em roda olhando nos olhos, falam abertamente de suas experiências e aprendizados, acolhem-se e celebram-se. Quem está falando não é interrompido(a) – a palavra tem vez. O silêncio também, na escuta de quem não está com a palavra. Se alguém é citado(a), recebe a palavra quando chegar sua vez. A sinceridade reina. A união e o respeito vigoram sobre as diferenças.
Só faltaram a fogueira e o cachimbo, hein!? Qualquer semelhança com uma roda de povos originários não é mera coincidência. Nós nos gabamos tanto da ‘civilização’, mas já passou da hora de (re)aprendermos a falar. E, hoje quase uma raridade, a escutar também.
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