Imagine a equipe como uma orquestra contemporânea, com variados instrumentos e musicistas. Múltiplos talentos, personalidades, origens, repertórios. Entre cordas, madeiras, metais e percussão, todos têm importância – cada qual em seu momento e em conjunto. A liderança precisa ter maestria, criatividade e jogo de cintura para reger esse conjunto de diversidades, com partituras diversas para públicos distintos – com impactos institucionais e financeiros – e, mais que isso, cuidando para que as situações externas não afetem a harmonia do grupo. Daí vem o termo ‘situacional’ – uma prática de liderança que não se fixa em uma linha reta nem em conceitos imutáveis e, sim, “dança conforme a música”.
Aliás, “a música não pode parar”. Dito popular usado em variadas circunstâncias, nos traz lembranças históricas de quando as composições musicais foram bálsamos para milhares de pessoas em situações extremas de luta pela sobrevivência – como, por exemplo, na Segunda Guerra Mundial. Para outras tantas, na época da(s) ditadura(s). E para nós, mais recentemente, na travessia da pandemia.
A economia, o mundo, a vida não podem parar – ainda que em várias ‘sinucas de bico’ (situação em que a pessoa se vê, aparentemente, ‘sem saída’ no jogo) precisemos parar por um momento para respirar, pensar no que fazer, como reagir, para onde ir. Nesses momentos de impasse, conflito ou crise, uma boa liderança com mobilidade, visão estratégica, inteligência emocional, habilidade de comunicação e resiliência faz toda a diferença.
Resiliência, aliás, é uma das palavras-chave aqui. Quem nunca se viu diante de situações desafiadoras, sem a menor chance de controlá-las? E às vezes elas chegam de surpresa aos pares, tanto no âmbito profissional quanto pessoal – haja resiliência! Mas se temos a consciência de que, de uma forma ou de outra, “tudo passa” – e se temos apoio e parceria para atravessar esses tsunamis –, a carga psicológica-física-emocional pode ser menos avassaladora.
Processos externos (ou mesmo internos, que vêm a público somente quando estouram) que afetam a saúde financeira-comercial-institucional da empresa, fusões que desencadeiam mudanças estruturais – inclusive no capital humano –, trocas de comando, cenários políticos instáveis são alguns exemplos de situações desafiadoras que escapam ao nosso controle. Isso sem falar em catástrofes naturais-ambientais, catarses de comportamentos desumanos, acidentes, doenças – como nossa recente experiência pandêmica.
Se estamos com a batuta – instrumento que o(a) maestro(a) utiliza para reger a orquestra – em mãos, temos a responsabilidade de (trabalhar para) manter a harmonia – e os ânimos – do grupo da melhor forma possível, utilizando todo nosso repertório de sabedoria, criatividade, empatia, resiliência, coragem e senso de união para atravessar qualquer situação, por mais impossível que pareça. Se a batuta não está entre nossos dedos, ainda assim temos a oportunidade de contribuir com nossos talentos, habilidades e conhecimentos para que o ‘conjunto da obra’ seja digno de respeito e admiração – nem que seja por nós mesmo(a)s apenas, de saber que demos o melhor de nós e fizemos o que podia ser feito (com o que tínhamos acesso naquele momento). Lembre-se, a música não pode parar.
Importante ressaltar que o jogo de cintura para lidar com situações adversas externas precisa se refletir dentro de casa também. Uma boa liderança situacional observa as peculiaridades de cada pessoa da equipe e como integrá-las com fluidez e harmonia – onde estão as ‘ligas’ e os pontos de atrito. Gerencia talentos, os graus de maturidade e experiência, os espectros de criatividade e funcionalidade, as ‘vontades’ e capacidades de cada um(a). Há quem esteja pronto(a) para trabalhar com plena autonomia e responsabilidade, compartilhando experiências, colheitas e aprendizados; e há quem ainda precise adquirir mais repertório para se sentir seguro(a) até soltar a mão e assumir a realização de uma tarefa ou projeto. Nosso exercício diário de resiliência e empatia também passa por aí.
E não se trata apenas de capacitação técnica, de conhecimento acadêmico ou profissional, mas também de habilidades emocionais. De que adianta uma pessoa ser pós-doutorada ou premiada em determinada área, se não consegue manter um diálogo pacífico, ‘civilizado’ e produtivo com alguém (da equipe ou não) que pensa de forma diferente?
“Levante suas palavras, não sua voz”, já dizia o poeta persa Rumi (séc. XIII). Um(a) bom(a) líder situacional precisa saber ouvir e se comunicar com clareza, firmeza e sensibilidade – dentro e fora de casa. Para além do conteúdo, a forma como as coisas são ditas – e realizadas – pode incitar uma guerra ou decretar a paz.
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