Olhe ao seu redor: há diversidade de perfis, gêneros, etnias, idades, recortes sociais, condições físicas e áreas de conhecimento em seu projeto ou núcleo de trabalho? E nas lideranças, inclusive as de ‘alto escalão’?
‘Ah, mas tem trabalhos que são mais pra homem mesmo’ ou ‘isso é coisa de mulher’ são falas gastas e datadas, que já não cabem no ambiente corporativo saudável conteporâneo – ou não deveriam caber, nem como piadinha na rodinha do café. São as pessoas, suas habilidades e vontades que determinam suas escolhas por um trabalho ou outro, não seus gêneros – muito menos seus endereços, cores de pele, data da certidão de nascimento ou origem ancestral. Mesmo no caso de PCDs (pessoas com deficiência), a elas deve ser dada a possibilidade de escolha.
A responsabilidade social começa dentro da empresa. E é aí que o papel da área de RH é fundamental, para propor, integrar e gerir os recursos e o meio (ambiente) pra que a diversidade (de todas as categorias acima) esteja presente, viva, e cada vez mais naturalizada.
Sim, a responsabilidade social precisa ser ‘normalizada’ dentro de cada núcleo, de cada grupo de trabalho e, se possível, de cada indivíduo – deixar de ser um ‘extra’, uma exceção, uma doação pra aliviar a consciência ou enfeitar o relatório anual.
Para além das estruturas e números, as empresas são feitas de pessoas. Clientes, fornecedore(a)s, parceiro(a)s, também. Mídias, publicidade, redes sociais – o mundo inteiro é feito de pessoas (e natureza e outros seres vivos, claro).
Então…por que algumas/tantas/várias companhias ainda não cuidam ‘tão bem’ do(a)s colaboradore(a)s, como cuidariam de um(a) amigo(a) próximo(a) ou alguém da família? E, quando falamos em ‘colaboradore(a)s’, abrangemos freelancers e temporário(a)s também. Uma pessoa que vai passar ‘apenas um mês’ trabalhando pela sua empresa/nome/projeto merece ser tratada com muito respeito e zelo – tanto quanto o(a) presidente/CEO ou qualquer outra designação de liderança. Não é porque uma pessoa veio ‘apenas fazer uma entrega’ ou prestar algum serviço rápido que não merece ser bem recebida com gentileza. Como uma pessoa trata as outras, alias, diz muito sobre ela – individualmente e/ou ‘sob orientações’ de alguma corporação.
Uma marca pode investir milhões em campanhas publicitárias, assessoria de imprensa, eventos, promoções, patrocínios e tudo isso ficar muito prejudicado por uma cena desastrosa gravada com um celular e publicada nas redes sociais – como, por exemplo, no caso seguranças de uma grande rede de supermercados que maltrataram um homem negro e mataram um cachorro. Essas cenas foram ‘do lado de fora’? Sim. Mas impactaram de forma muito negativa na imagem da companhia. E, vale ressaltar, não são aceitáveis em hipótese alguma – ainda que ninguém estivesse vendo.
E para além das fronteiras corporativas, como a marca se posiciona? Possui selos de empresa amiga da criança, do meio ambiente, da natureza, dos animais, da diversidade? Ótimo. Mas o que realiza de verdade, no entorno, no micro antes do macro, em relação à comunidade em que está inserida? Lembrando: cada pessoa que trabalha ou interage com a companhia faz parte de alguma comunidade. E em cada uma dessas comunidades, com certeza há alguém que, em algum momento (ou muitos), precisa de solidariedade.
Existe a prática de se olhar para isso? Sua empresa ou grupo atua com programas de voluntário(a)? São firmados em parceria com alguma(s) instituição(ões)? Se sim, quem decide qual(is)? A área de RH é envolvida ou apenas comunicada da decisão? Há desdobramentos internos relacionados ao serviço de voluntariado, conversas sobre empatia, heranças histórico-sociais, aprendizados provenientes das experiências? Ser voluntário(a) não é lidar apenas com o que falta, tem muito empreendedorismo por aí precisando de uma força pra alçar voo. Para além das parcerias formalizadas, é possível alguém prestar um serviço, apoio ou tutoria por conta própria, mesmo que (ainda) não haja um ‘convênio’ firmado, e isso ser validado internamente?
E outras questões, como gestão de recursos materiais, de reaproveitamento x desperdício de alimentos, suprimentos, energia, água? A empresa colhe louros pelo relatório de sustentabilidade, mas não recicla nem encaminha corretamente seus resíduos sólidos? Ganha selo de empresa amiga da criança, mas não possui ambiente para acolher um(a) bebê em fase de amamentação nem espaço kids para crianças em idade pré-escolar?
As perguntas são muitas porque o espectro de responsabilidade social é amplo e vai além da cartilha do passo-a-passo ‘pra ficar bem na fita’.
Outro termômetro importante é a saúde física-mental-emocional das pessoas e do ambiente. Há um bem-estar instaurado no ar? Na sensação de felicidade genuína, por estar ali, por fazer parte do projeto, da empresa ou empreendimento – não apenas pela questão financeira?
Quando sentir que há cuidado com tudo que falamos até agora, tanto do lado de dentro quanto do lado de fora – e que isso é autêntico e não apenas uma jogada estratégica de marketing e relações públicas, então talvez você esteja no lugar certo na hora certa. Olhe novamente ao seu redor…o que você vê?
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