Ninguém é perfeito(a) e está tudo bem. Mas o que fazemos a partir de quem somos – do jeito que somos – é que faz a diferença. Em casa, com a família, no trabalho, no convívio social. Com quem amamos ou admiramos e queremos agradar. Com quem nos ama e baixamos a guarda. Com quem não conhecemos muito bem e mesmo com quem conhecemos e não simpatizamos.
Todos os dias, no entanto, ao acordar temos a oportunidade de mudar algo – principalmente no que diz respeito a nós mesmo(a)s. Podemos passar mais de 15h reclamando da vida, comparando-nos às outras pessoas, olhando para o que falta, vibrando escassez; ou podemos perceber as coisas boas que acontecem dia após dia, reconhecer os presentes que chegam e a abundância ao redor – a escolha é nossa e de mais ninguém.
O mesmo tempo que gastamos para criticar e julgar, apontar defeitos, reclamar do jeito que algo foi realizado (ou não) pode ser investido em ações internas e externas mais positivas. Observar as qualidades de alguém e/ou de nós mesmo(a)s facilita uma mudança de mindset (mentalidade, pensamento) e abre espaço para novas formas de nos relacionarmos com as pessoas, o trabalho, a vida.
Claro que podemos olhar ‘para o que falta’ no sentido de determinar que características queremos (ou precisamos) adquirir, desenvolver, potencializar. Por exemplo, a habilidade de falar em público e de improviso. A paciência de ouvir sem interromper. A capacidade de aceitar coisas, pessoas, situações diferentes (e por vezes adversas) das que estamos acostumado(a)s.
‘O que nos sobra’ (e transborda) também merece atenção. A ansiedade que atropela, o excesso de cautela que talvez disfarce um medo, a fala sem freio que não dá espaço a uma escuta ativa e empática, o ‘excesso de confiança’ que muitas vezes é visto como arrogância.
Somos tantas variáveis dentro de nós mesmo(a)s. Mas, qualquer que seja a circunstância, sempre haverá a metade cheia e a metade vazia do copo – mais no sentido de luz e sombra de nossas personalidades, não no sentido de ‘certo ou errado’.
Nada em excesso, tudo é uma questão de equilíbrio. Posso ser muito boa na comunicação oral, mas se eu falar o tempo todo, sem pausas e espaços para o(a)s outro(a)s se expressarem, o copo cheio transborda e há desperdício de matéria e energia.
E boa liderança traz esse olhar para nossa presença individual e nossa interação com o conjunto, com as multiplicidades do ser coletivo. Posso conduzir uma expedição de aventura chamando as pessoas de preguiçosas, reclamando do tempo e de quem sente cansaço ou dores no corpo; ou posso usar minhas habilidades motivacionais para incentivar cada um(a) a dar o melhor de si, acolher suas dores e dificuldades e lembrá-las de que o mais importante de tudo é o percurso, o’'durante’, não (só) a chegada. Posso aproveitar essa experiência para observar como me comporto (e reajo) diante de imprevistos e até adversidades, com pessoas de personalidades, humores e jeitos de ser distintos. E convidar as outras pessoas a fazerem o mesmo. Autoconhecimento, de novo, é a chave. E o que fazemos com todas essas informações, lembrando, é uma escolha diária.
Na chamada Liderança Positiva a escolha é a de potencializar o que cada um(a) tem de bom. Claro que todas as pessoas têm várias características e habilidades que “podem ser melhoradas”. Do mesmo jeito, cada um(a) de nós sabe que é muito bom(a), excelente, incrivelmente talentoso(a) em algo – e é nesse algo que vamos focar.
Esse nosso lado ‘incrivelmente talentoso’ precisa de espaço para se apresentar, crescer e brilhar. Quem está na liderança não pode ter receio de trabalhar com gente boa. A concorrência precisa ficar do lado de fora, do lado de dentro é preciso que o clima seja de cooperação, clareza, harmonia e parceria.
O foco em mapear e potencializar talentos é a grande diferença da liderança positiva em relação à antiga forma de liderar pessoas/equipes, em que havia farejamento e alerta das ‘fraquezas’ de cada colaborador(a) – muitas vezes colocando(a) em ‘situação de risco’ dentro da empresa, apesar de possuir outras (boas) qualidades, nem sempre vistas, muito menos consideradas.
Valorizar, reconhecer, integrar, incentivar e até desafiar são alguns dos verbos fixos na prática da liderança positiva. Depreciar, diminuir, abafar, excluir são cartas fora do baralho. Dependendo do jogo, a mesma pessoa pode pontuar melhor em um cenário que em outro. Assim como uma mesma carta pode ter utilizações e valorações distintas – um número 2 que não conta muitos pontos no buraco, no poker pode compor uma full house, uma quadra ou até um straight flush.
Que tal, então, levantarmos os olhos da mesa e nos concentrarmos no que podemos fazer de melhor a partir do que somos, com o que temos e por onde queremos ir…?
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